Mallu,
me tornar mãe foi o principal divisor de águas da minha vida. não foi o dia da minha formatura, não foi a conquista da bolsa integral pro curso que sempre sonhei fazer, não foi o conhecimento do feminismo, não foi o dia que assumi pros meus pais quem eu sou e tive de lidar com todas as consequências disso, não foi quando saí de casa aos 19 anos sem ideia do que viria pela frente, não foram todas as coisas lindas e doídas que vivi nessa nova jornada, não foi a descoberta da condição clínica que tenho e que interfere em cada aspecto da minha vida, não foi o dia em que me casei com seu pai. foi quando me tornei mãe. a sua mãe.
não posso dizer que isso aconteceu ao ver aquelas duas listras cor-de-rosa ou ao ouvir seu coração bater pela primeira vez. não, filha, não é assim que nasce uma mãe. uma mãe nasce - a sua mãe nasceu - aprendendo a amar.
foi sentindo seu cheiro, te vendo dormir, aprendendo a te amamentar, chorando de desespero por não saber como cuidar de você, chorando de felicidade por ter recebido esse presente tão maravilhoso que é sua existência, ouvindo sua voz e suas primeiras palavras, acompanhando seus primeiros passos. foi com cada dificuldade e com cada novo aprendizado que tivemos juntas que eu fui te amando, pouco a pouco, até chegar a essa coisa sem nome, sem medida, sem limites que é o que eu sinto por você.
e foi assim, Mallu, que eu aprendi a me amar também.
porque enquanto observo cada pedacinho de você, cada traço do seu rosto, e tenho certeza que é a coisa mais linda que meus olhos já viram, eu reconheço os meus traços ali. eu que tanto olhei o espelho com ódio e repulsa vejo em você, na pessoa mais linda desse mundo, esses detalhes que também são meus. e então eu vejo o quanto também sou linda.
eu que me senti envergonhada pelo meu corpo a vida inteira, o vi se transformar e te gerar com perfeição. vi meu corpo trabalhar magnificamente e te parir, te vi sair das minhas entranhas e receber o primeiro sopro de vida. e então fiquei grata pelo corpo perfeito e maravilhoso que eu tenho.
eu que nunca achei que me bastasse e vivia procurando em outros lugares o meu sustento, fazendo pessoas de muletas emocionais e causando tantos estragos por aí... de repente eu passei a ser o que te mantinha viva: com meu leite, produzido por mim, perfeito pra você. com meu colo que era o único que te acalmava. então percebi que não só sustentava a minha filha - também me sustentava. eu era suficiente.
eu que nunca me senti segura, que nunca encontrei abrigo. e estava ali, dia após dia, crescendo com você e sendo o seu porto-seguro. me fiz o abrigo que nunca tive.
eu que me sentia tão fraca que tentei sumir de todas as formas possíveis, inclusive deixando de me nutrir durante anos. você precisava da minha presença e eu desejei estar ao seu lado a cada momento da sua vida, fosse como fosse. e então eu percebi a grandeza da minha força, capaz de vencer qualquer desafio por você. por mim. por nós.
eu que me sentia tão inadequada, quebrada, inútil. eu que não acreditava na minha capacidade de criar, trabalhar, construir, aprender... de viver. e você chegou pra me mostrar que não só sou capaz como posso ser incrível em tudo que eu quiser ser. que sou habilidosa, perspicaz, inteligente e sensível, e desde então uma vida inteirinha vem sido construída e reconstruída...
eu que não me achava digna de respeito. eu que não obtinha empatia daqueles que amava. eu que não sabia como cultivar esses sentimentos porque não pude acessá-los... de repente estava ali. respeitando você desde a gestação para que nascesse na sua hora, respeitando seu sono, seu humor, suas vontades, seu crescimento, seus limites. sentindo junto com você cada nova pequena - e enorme ao mesmo tempo - dificuldade dessa vida bagunçada aqui fora. te respeitando eu aprendi a me respeitar também. a legitimar meus sentimentos, a valorizar o que eu carrego no peito. e foi respeitando a você e a mim que passei a respeitar a tudo e todes es que nos cercam. a empatizar mesmo quando parece impossível e a rever meus pré-conceitos tão arraigados, reconhecer meus privilégios, lutar e resistir em busca dos meus direitos.
eu que me sentia tão ferida e acuada que pensei jamais ter capacidade de amar alguém genuinamente. você chegou e eu te amei, filha. e eu te amo. enlouquecida e incondicionalmente, eu te amo.
foi amando você que pude me permitir me amar e amar a vida que me foi concedida. foi sendo grata por ter te dado à luz e te ver crescer tão perfeita, tão maravilhosa, que pude reconhecer a minha perfeição, a minha maravilhosidade, e ser grata por isso também.
Mallu, muito obrigada, meu amor. o que você fez por mim foi tão incrível e divino que nem em mil vidas poderei recompensá-la... mas vou persistir tentando... nessa e em todas as outras porque, eu sei, eu tenho certeza, nosso encontro é mais que eterno... é atemporal.
sexta-feira, 6 de março de 2015
por você. por mim. por nós.
Marcadores:
amamentação,
autoestima,
carta pro bebê,
criação com apego,
dia-a-dia,
feminismo,
maternagem ativa,
mudanças maternas,
parto,
picos de crescimento,
relacionamento
sexta-feira, 5 de dezembro de 2014
do acolhimento e dos aprendizados
ontem eu perdi a paciência e agi com a Mallu com grosseria, o que definitivamente não vai de encontro com minha forma de criá-la.
eu não bati. eu não gritei. mas ainda assim minha atitude foi violenta e agressiva. me desculpei assim que me vi consciente do que havia feito.
ela me abraçou, me beijou, me chamou pra brincar de imitar os sons dos animais (a gente faz isso todo dia no banho) e dormiu agarradinha em mim.
mesmo assim terminei o dia arrasada, chorando, me sentindo a pior mãe do mundo.
conversando com umas amigas sobre o ocorrido lembrei que também sou humana. também tenho meus limites, perco a paciência, ajo por impulso. e que faz parte do ser mãe errar. e se desculpar, quantas vezes forem necessárias. porque nossos filhos precisam conhecer a humanidade que existe em nós ou não aprenderão a reconhecer a humanidade que existe neles. eles precisam nos ver acolhendo nossos sentimentos - inclusive a raiva - e dando voz à eles para que consigam acolher os seus próprios. e precisam saber quando devemos desculpas à eles, que não somos soberanos em nossas atitudes, que não temos o direito de causar sofrimento à eles apenas porque somos mães/pais. precisam conhecer os dois lados do perdão - o de quem necessita dele e o de quem oferece.
hoje, assim que acordei, me lembrei de uma cena que me fez chorar emocionada há alguns dias: Mallu estava colocando sua boneca pra dormir. muito carinhosa, deu peito, abraçou, olhou-a nos olhos e disse: amo você, viu? amo você muito.
sem perceber que eu a observava, ela estava reproduzindo o que recebe de mim todas as noites.
sim, eu erro. muito. mas eu também acerto um sem número de vezes. com meus tropeços e aprendizados eu sou a melhor mãe que a Mallu poderia ter e, sem dúvidas, nenhuma outra filha seria tão perfeita pra mim quanto ela. com a chegada da Mallu aprendi a acolher a criança que eu fui, a dar voz aos meus sentimentos, a valorizar todo o meu processo de amadurecimento, a me amar um pouquinho mais a cada dia. tudo porque eu queria ser uma pessoa melhor por ela, e agora eu sou uma mulher muito melhor - e em constante processo de melhoramento - por mim e por todos a minha volta.
que sigamos sempre nesse caminho evolutivo juntas, lado a lado, com todo o amor que nos une.
minha eterna gratidão por ter a honra de ser sua companheira de jornada, filha.
eu não bati. eu não gritei. mas ainda assim minha atitude foi violenta e agressiva. me desculpei assim que me vi consciente do que havia feito.
ela me abraçou, me beijou, me chamou pra brincar de imitar os sons dos animais (a gente faz isso todo dia no banho) e dormiu agarradinha em mim.
mesmo assim terminei o dia arrasada, chorando, me sentindo a pior mãe do mundo.
conversando com umas amigas sobre o ocorrido lembrei que também sou humana. também tenho meus limites, perco a paciência, ajo por impulso. e que faz parte do ser mãe errar. e se desculpar, quantas vezes forem necessárias. porque nossos filhos precisam conhecer a humanidade que existe em nós ou não aprenderão a reconhecer a humanidade que existe neles. eles precisam nos ver acolhendo nossos sentimentos - inclusive a raiva - e dando voz à eles para que consigam acolher os seus próprios. e precisam saber quando devemos desculpas à eles, que não somos soberanos em nossas atitudes, que não temos o direito de causar sofrimento à eles apenas porque somos mães/pais. precisam conhecer os dois lados do perdão - o de quem necessita dele e o de quem oferece.
hoje, assim que acordei, me lembrei de uma cena que me fez chorar emocionada há alguns dias: Mallu estava colocando sua boneca pra dormir. muito carinhosa, deu peito, abraçou, olhou-a nos olhos e disse: amo você, viu? amo você muito.
sem perceber que eu a observava, ela estava reproduzindo o que recebe de mim todas as noites.
sim, eu erro. muito. mas eu também acerto um sem número de vezes. com meus tropeços e aprendizados eu sou a melhor mãe que a Mallu poderia ter e, sem dúvidas, nenhuma outra filha seria tão perfeita pra mim quanto ela. com a chegada da Mallu aprendi a acolher a criança que eu fui, a dar voz aos meus sentimentos, a valorizar todo o meu processo de amadurecimento, a me amar um pouquinho mais a cada dia. tudo porque eu queria ser uma pessoa melhor por ela, e agora eu sou uma mulher muito melhor - e em constante processo de melhoramento - por mim e por todos a minha volta.
que sigamos sempre nesse caminho evolutivo juntas, lado a lado, com todo o amor que nos une.
minha eterna gratidão por ter a honra de ser sua companheira de jornada, filha.
terça-feira, 23 de setembro de 2014
relato do meu puerpério - nu e cru
logo depois do parto me
bateu uma crise. então era aquilo? o parto que eu sonhei, que eu dei
o meu melhor pra construir, era aquilo? aquela dor toda (ocitocina
sintética gotejando sem parar), aquelas pessoas me infantilizando no hospital, roubando meu protagonismo, meu
marido muito mais preocupado com a gripe dele do que comigo (sim, EU
queria atenção, era o MEU momento. eu ainda não havia entendido que dali pra frente o foco seria a Mallu).
chegando em casa entrei pro banheiro correndo e fui chorar. o que eu ia fazer? eu nunca soube cuidar nem de mim mesma. olhei pra minha cachorrinha e pensei "coitada, vai sentir tanto agora que o bebê chegou, eu não podia ter engravidado, coitada da Chérie" - sim, eu estava me sentindo culpada porque a cachorra sentir a chegada da minha filha.
no terceiro dia pós-parto meu leite desceu. eu chorei por 10 horas seguidas. sem cessar. as lágrimas rolando, eu soluçando, não conseguia amamentar direito, os peitos rachados, a dor, a insegurança, o cansaço, a privação de sono. minha mãe e minha tia foram ficar comigo, fizeram canja de galinha e canjica (cuidado que fez a maior diferença), o Carlos foi pra casa da mãe dele passar o dia inteiro (!!!) e depois ela me liga falando "quer dizer que você tá chorando sem parar? hahahahaha já rimos demais de você aqui". emudeci. desliguei o telefone. tenho raiva e mágoa disso até hoje.
no quinto dia fomos a pé até o posto fazer o teste do pezinho. a enfermeira foi grossa, disse que Mallu tava com icterícia, que tinha que voltar no hospital pra internar e tomar banho de sol. foi aí que vi o tamanho do meu amor por ela: chorei, fiquei desesperada, "como ela vai dormir naquele berço sozinha? ela gosta é de ficar no colo, chora se sai do colo por um minuto, eu não vou ficar longe da minha filha, não consigo, ela é parte de mim". peitei a decisão e não voltei pro hospital. quando chegou a noite confesso que pensei sem querer querendo: "podia ter deixado ela ir, pelo menos voltava pra casa e dormia uma noite inteira".
daí pra frente começaram os palpites e eu fui descobrindo a minha força. virei bicho, leoa lambendo e defendendo a cria. os cuidados com ela já não eram feitos no "automático", por obrigação... o amor foi se construindo, se solidificando. lembro especialmente de uma noite nessa primeira semana em que Mallu chorava muito, chorava sem parar, e nada fazia ela se acalmar. fui pro quarto com abraçando-a, o rostinho colado no meu, e fiquei dizendo que eu estava ali, cuidando, acolhendo, amando. que dali pra frente estaríamos sempre juntas e eu faria tudo o que fosse preciso por ela, sempre. ela dormiu e eu senti a força incrível do nosso amor.
não parou por aí, esse foi só o baby blues. tive depressão pós-parto (ou não, na verdade eu tenho transtorno afetivo bipolar e depressão é algo "corriqueiro" na minha vida).
sofri muito por não ser mais o centro das atenções, por não reconhecer meu corpo, por custar a entender que as coisas nunca mais seriam como antes, por começar uma compulsão alimentar que não consegui controlar até hoje, por perder minha individualidade (sempre fui um tantinho egoísta). tive crise de pânico durante os primeiros 3 ou 4 meses e minha psicóloga me atendia em casa, se não fosse esse apoio (e também a presença quase diária da minha irmã) não sei a que ponto teria chegado.
foi isso. se eu pudesse voltar atrás teria buscado muita informação sobre o puerpério, teria pedido mais ajuda, deixado algumas coisas já prontas (organizado alimentação, limpeza da casa, pediatra definido, etc), teria falado mais sobre os meus sentimentos, criado menos expectativas, teria me envolvido mais com a minha filha e esquecido do resto do mundo (principalmente do marido, fiquei muito carente da atenção dele nesse período e isso me rendeu algum sofrimento desnecessário).
chegando em casa entrei pro banheiro correndo e fui chorar. o que eu ia fazer? eu nunca soube cuidar nem de mim mesma. olhei pra minha cachorrinha e pensei "coitada, vai sentir tanto agora que o bebê chegou, eu não podia ter engravidado, coitada da Chérie" - sim, eu estava me sentindo culpada porque a cachorra sentir a chegada da minha filha.
no terceiro dia pós-parto meu leite desceu. eu chorei por 10 horas seguidas. sem cessar. as lágrimas rolando, eu soluçando, não conseguia amamentar direito, os peitos rachados, a dor, a insegurança, o cansaço, a privação de sono. minha mãe e minha tia foram ficar comigo, fizeram canja de galinha e canjica (cuidado que fez a maior diferença), o Carlos foi pra casa da mãe dele passar o dia inteiro (!!!) e depois ela me liga falando "quer dizer que você tá chorando sem parar? hahahahaha já rimos demais de você aqui". emudeci. desliguei o telefone. tenho raiva e mágoa disso até hoje.
no quinto dia fomos a pé até o posto fazer o teste do pezinho. a enfermeira foi grossa, disse que Mallu tava com icterícia, que tinha que voltar no hospital pra internar e tomar banho de sol. foi aí que vi o tamanho do meu amor por ela: chorei, fiquei desesperada, "como ela vai dormir naquele berço sozinha? ela gosta é de ficar no colo, chora se sai do colo por um minuto, eu não vou ficar longe da minha filha, não consigo, ela é parte de mim". peitei a decisão e não voltei pro hospital. quando chegou a noite confesso que pensei sem querer querendo: "podia ter deixado ela ir, pelo menos voltava pra casa e dormia uma noite inteira".
daí pra frente começaram os palpites e eu fui descobrindo a minha força. virei bicho, leoa lambendo e defendendo a cria. os cuidados com ela já não eram feitos no "automático", por obrigação... o amor foi se construindo, se solidificando. lembro especialmente de uma noite nessa primeira semana em que Mallu chorava muito, chorava sem parar, e nada fazia ela se acalmar. fui pro quarto com abraçando-a, o rostinho colado no meu, e fiquei dizendo que eu estava ali, cuidando, acolhendo, amando. que dali pra frente estaríamos sempre juntas e eu faria tudo o que fosse preciso por ela, sempre. ela dormiu e eu senti a força incrível do nosso amor.
não parou por aí, esse foi só o baby blues. tive depressão pós-parto (ou não, na verdade eu tenho transtorno afetivo bipolar e depressão é algo "corriqueiro" na minha vida).
sofri muito por não ser mais o centro das atenções, por não reconhecer meu corpo, por custar a entender que as coisas nunca mais seriam como antes, por começar uma compulsão alimentar que não consegui controlar até hoje, por perder minha individualidade (sempre fui um tantinho egoísta). tive crise de pânico durante os primeiros 3 ou 4 meses e minha psicóloga me atendia em casa, se não fosse esse apoio (e também a presença quase diária da minha irmã) não sei a que ponto teria chegado.
foi isso. se eu pudesse voltar atrás teria buscado muita informação sobre o puerpério, teria pedido mais ajuda, deixado algumas coisas já prontas (organizado alimentação, limpeza da casa, pediatra definido, etc), teria falado mais sobre os meus sentimentos, criado menos expectativas, teria me envolvido mais com a minha filha e esquecido do resto do mundo (principalmente do marido, fiquei muito carente da atenção dele nesse período e isso me rendeu algum sofrimento desnecessário).
acho importante fazer relatos de puerpério, presentar com livros sobre o assunto (sugestão: A maternidade e o encontro com a própria sombra - Laura Gutman), colocar na roda que o começo é punk mesmo e nem tudo são flores. assim como os relatos de parto me ajudaram muito a saber o que esperar e como ponderar as situações que surgiram, teria me feito muito bem e seria muito esclarecedor se eu tivesse um conhecimento prévio do que viria pela frente. vamos falar sobre o puerpério, o pós-parto, as dores, os medos, as inseguranças. as próximas mães certamente agradecerão.
e quer saber bem a verdade? eu acho que a gente sai do puerpério mas o puerpério nunca mais sai da
gente.
terça-feira, 1 de abril de 2014
10 coisas que eu amo e 10 coisas que eu (detesto) não amo tanto assim em maternar
nem só de amor e nem só de cansaço vive uma mãe, não é? pensando nisso me propus a pensar nas 10 coisas que amo e 10 coisas que eu
10 coisas que eu não gosto em maternar
1 - cortar as unhas da Mallu - é tipo uma luta de MMA e ela sempre vence.
2 - raramente conseguir comer em paz - sentada à mesa, com as duas mãos disponíveis, sem ninguém no meu colo.
3 - sono e cansaço - se você me perguntar "como você tá?" todos os dias, é bem possível que a resposta seja sempre a mesma: "cansada!". e se eu deitar pra dormir tudo que preciso vou entrar em coma pelo menos por uns dois anos.
4 - sexo - alguém viu minha libido passando por aí? manda voltar que tá fazendo falta.
5 - tempo - é todo da minha filha, mal mal dou conta de lavar o cabelo sossegada ou passear com a minha cachorrinha. cabô. Mallu dominou geral.
6 - vícios e manias - ainda tenho alguns, admito (quem não? atira a primeira barra de chocolate ou a cartela de rivotril aí!), mas muita coisa tive que largar pra lá.
7 - sair com o marido - nunca mais saímos sozinhos desde que a filhota nasceu. é bom mas é ruim, sabe como?
8 - beber - saudades, mojito, um beijo, caipivodka, me espera, tequila!
9 - exercícios físicos - academia? musculação? hidroginástica? o máximo que eu faço é andar o corredor de casa 200x por dia dando a mão pra um serzinho pequeno e cheio das vontades.
10 - nunca mais estar sozinha - autoexplicativo. é isso. nunca fico sozinha, nunquinha, de jeito nenhum. nem pra ler, nem pra pensar, nem pra fazer o 2.
10 coisas que eu amo em maternar
1 - cama compartilhada - é bom dormir de conchinha com o marido? é uma delícia. mas dormir de conchinha com a cria é incomparável! delícia pura!
2 - amamentar - amor líquido, vínculo inexplicável, uma satisfação sem dimensão.
3 - sexo - depois de parir ficou ma-ra-vi-lho-so. parir é o poder, minha gente, vai por mim.
4 - vícios e manias - anos e anos de luta pra mudar velhos hábitos sem sucesso, daí chega essa pessoinha incrível e me faz ver o mundo de forma diferente e não precisar mais dessas muletas emocionais (ainda tenho algumas sim, mas tudo é um processo, devagar e sempre).
5 - sentimentos nobres - sabe o egoísmo? não existe mais. se antes eu era o centro do mundo, agora tenho muitas outras perspectivas. a coragem e a força me tomaram inteira, os medos fugiram apavorados, o amor imenso que nasceu junto com a Mallu não ficou só pra ela - me amo mais, amo o outro, amo o mundo, amo o que foi e amo muito mais o que virá.
6 - reflexão, busca constante e enfrentamento - meu olhar é outro, minhas posições também.
7 - tempo - consigo fazer (quase) tudo que preciso e ainda sobra um tempinho pra molengar. me fala o que eu fazia com tanto tempo livre antigamente?
8 - empatia - como a Mallu é parte de mim e consigo sempre me colocar no lugar dela, aprendi por tabela a exercitar isso muito mais fácil com as outras pessoas.
9 - grude-grudinho - minha bebê é grude (ou high need, embora eu não goste de rótulos). cansa? ô! mas nossa conexão é absurda de linda. amo nossos carinhos, nossos chamegos, nosso grude.
10 - nunca mais estar sozinha - NUNCA, nunquinha, nunca mais estarei sozinha. Mallu está em mim. não é incrível, lindo, maravilhoso, único? ah, é sim! <3 <3 <3
e você? compartilha as dores e as delícias de ser mãe com a gente também!
sábado, 22 de março de 2014
relato de puerpério: doloroso, lindo, vivo e excitante
divido com vocês uma experiência que não foi escrita por mim, mas também foi minha. e poderia apostar que sua também, não?
Um belo dia, eu não me reconheci. Eu não sabia exatamente o que tinha mudado, mas eu não era eu. Não tive consciência. Não vi que estava mudando. Um belo dia, eu não cabia mais nas minhas roupas... Nos meus conceitos, nas minhas posturas, nos meus desejos, nos meus projetos. Fiquei chocada. Abri meu guarda roupa e vi que nada daquilo me pertencia mais. Abri meu porta jóia e vi que nada daquilo fazia mais eco em mim. Quem eu era? Do que eu gostava? Quais eram as minhas marcas? Quais eram os meus cheiros , as minhas músicas, os meus livros, os meus discos? Qual era a minha voz? Foi assustador. Eu estava vivendo a vida de outra pessoa. O que era aquilo, tão diferente de mim, tão intensamente eu, e tão diferente de quem eu era e de quem eu pensei que me transformaria? Nem minha casa estava como eu queria! Parecia que eu nem morava ali! Parecia que aquilo tinha sido decorado por uma estranha!
E aí eu me assumi, me enterrei e renasci. Não foi fácil. Mas se alguém ler o que eu escrevia antes e depois de 2007, talvez se espante com a diferença. Os de perto estranharam. Perdi amigos antigos. Encontrei amigos novos. Revitalizei alguns laços.
Hoje eu sei que sou coisas que nunca imaginei. Sei que, quando eu inflei, inflei, até expelir um grão de humanidade, perdi algo junto com a placenta... E ganhei algo junto com os seios fartos. Perdi algo com as noites insones. Algo da minha essência morreu junto com a água fria que era quente para baixar as febres. E ganhei algo quando os via adormecer nos meus braços. Quem eu sou? Quem eu era? Perdi toda a segurança dos meus 20 anos. Perdi quase todos os meus ideais de festim. Perdi a leveza de quem não tem a vida de outra vida nas mãos e nas costas. Perdi a ingenuidade de quem acredita que um colar de pérolas a fará realmente mais bonita e ganhei... A segurança de uma mulher. A sabedoria de quem sabe que pode aprender, de quem sabe que pode se superar, de quem sabe que tem um lugar, de quem sabe que não precisa mais se afirmar, e provar as coisas para os outros, e convencer para ser respeitada. Ganhei a glória de quem se respeita, porque achou seu lugar. A leveza de quem está mais perto de entender a ingenuidade dos outros. Ganhei um respeito pelas diferenças que não tinha, quando pensava que sabia muito mais do que ignorava no mundo. Ganhei a suavidade e a delicadeza de quem já sabe onde vai. Ganhei a ternura de quem não tem medo do tempo, porque sabe que o bom e o belo, o assombro e o torvelinho podem vir a qualquer momento. Ganhei intimidade com a vida, por ter conhecido a presença da morte de tantas maneiras.
Quem eu era, não fui nunca mais. A menina que amava rosa, hoje prefere azul ou cinza. Que adorava perfumes mais chamativos, hoje prefere os mais discretos e gentis. O cabelo grande continua, se possível, abaixo da cintura, por favor... E ainda gosto de enfeitá-lo com um prendedor prateado, em dias de festa. Mas não preciso mais do meu prendedor prateado para saber que é dia de festa. Estou livre de muitas coisas, e presa há milhares de outras. Tudo mudou, mas, em algum momento, eu senti que não houve exatamente morte. Não foi uma impostora que tomou meu lugar, minhas roupas, meus livros, minha casa, meu marido. Foi apenas a essência destilada de quem eu sempre fui, mas era medrosa demais para assumir. Eu tinha vergonha de bancar minha essência fêmea e me contentava com distrações; eu tinha receio do que seria de minha vida social se os outros vissem o tamanho do meu idealismo, e me contentava com meias palavras. Agora, não. Toda minha força, ternura, delicadeza, intensidade e amor estão expostos, a mostra, e foi isso que a maternidade fez por mim. Não se pode gritar enquanto pare ou se tem nascido uma cria e usar as mesmas máscaras depois. Não se pode cuidar tão intensamente de outro ser humano e ter as mesmas reservas com os outros seres da criação depois. Isso te revela na essência, te despe mais que qualquer encontro sexual e mostra o belo e o grotesco que existe em você... E o que fica é a realidade, você, o mundo que segue como sempre seguiu ao seu redor e, de algum modo, você está no centro ou na periferia dele, sozinha e nua, com uma cria nos braços. É assustador, é doloroso, é desconcertante... Mas é lindo... E, perdoe... é também vivo e... excitante demais.
Jobis Guerra Joyce
segunda-feira, 17 de março de 2014
menos bruxas e mais irmãs
tenho pensado muito na história da branca de neve. na bruxa que pergunta todos os dias pro espelho: "espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?" e quando recebe uma resposta afirmativa, vai atrás de terminar com a vida da mulher que ousou ser mais bela do que ela.
tenho pensado nesses faz-de-conta todos onde a mãe nunca aparece. pelo contrário: sobram madrastas terríveis e irmãs maldosas.
ouvi aquela música da anitta que espanta as invejosas e a da valeska que afasta as recalcadas e inimigas. lembrei que no dia internacional da luta das mulheres vi uma piadinha numa rede social nos parabenizando por aguentar tantas amigas fofoqueiras e falsas.
e senti muitíssimo por todas nós. todas nós mulheres que somos ensinadas a competir umas com as outras diariamente. que não aceitamos que outra de nós se destaque. que não confiamos umas nas outras e juramos de pé junto que é melhor ter um amigo homem porque, afinal, ele não é uma ameaça. que usamos palavras de ofensa, que fazemos conversa atravessada, que nos tratamos como rivais, que alimentamos o machismo dia a dia com tudo isso que nos é ensinado desde criancinha.
não, não somos as princesas ameaçadas pelas bruxas más com maçãs envenenadas de ódio. somos irmãs - todas nós, daquela que você chama de "vagabunda" por usar roupa curta até a sua sogra, sua professora, sua vizinha. e o que o patriarcado quer é que não enxerguemos isso e nos tratemos com hostilidade, com dedos apontados, com a língua afiada para diminuir uma a uma das nossas semelhantes.
nós estamos do mesmo lado da batalha. a cultura machista em que vivemos quer que nos odiemos. mas nós não podemos. nós não vamos, combinado? nós vamos nos amar.
vamos ensinar às nossas filhas que elas podem confiar nas suas amigas. vamos ensiná-las a guardar os segredos que lhes são confessados, a ajudar sempre que forem solicitadas, a dar força quando outra menina qualquer estiver necessitando. vamos pedir que vejam todas as outras meninas com mais carinho e mais empatia. que vejam em si e em todas as outras a beleza de serem únicas e ainda assim serem a mesma. vamos mostrar que nos cuidando e apoiando somos fortes. e que ninguém pode com a nossa força. que ser mulher também é lutar, que nos é exigida a luta e que delas somos capazes - mas jamais umas contras as outras e sim, ainda que diferentes, sempre unidas, sempre nos fortalecendo de mãos dadas com as nossas irmãs.
vamos ensinar a sororidade para as nossas filhas. que elas se acolham e se amem. e aí então não existirão mais bruxas ou príncipes ou maçãs de ódio. apenas irmãs que confiam na sua força, que sustentam o seu amor.
tenho pensado nesses faz-de-conta todos onde a mãe nunca aparece. pelo contrário: sobram madrastas terríveis e irmãs maldosas.
ouvi aquela música da anitta que espanta as invejosas e a da valeska que afasta as recalcadas e inimigas. lembrei que no dia internacional da luta das mulheres vi uma piadinha numa rede social nos parabenizando por aguentar tantas amigas fofoqueiras e falsas.
e senti muitíssimo por todas nós. todas nós mulheres que somos ensinadas a competir umas com as outras diariamente. que não aceitamos que outra de nós se destaque. que não confiamos umas nas outras e juramos de pé junto que é melhor ter um amigo homem porque, afinal, ele não é uma ameaça. que usamos palavras de ofensa, que fazemos conversa atravessada, que nos tratamos como rivais, que alimentamos o machismo dia a dia com tudo isso que nos é ensinado desde criancinha.
não, não somos as princesas ameaçadas pelas bruxas más com maçãs envenenadas de ódio. somos irmãs - todas nós, daquela que você chama de "vagabunda" por usar roupa curta até a sua sogra, sua professora, sua vizinha. e o que o patriarcado quer é que não enxerguemos isso e nos tratemos com hostilidade, com dedos apontados, com a língua afiada para diminuir uma a uma das nossas semelhantes.
nós estamos do mesmo lado da batalha. a cultura machista em que vivemos quer que nos odiemos. mas nós não podemos. nós não vamos, combinado? nós vamos nos amar.
vamos ensinar às nossas filhas que elas podem confiar nas suas amigas. vamos ensiná-las a guardar os segredos que lhes são confessados, a ajudar sempre que forem solicitadas, a dar força quando outra menina qualquer estiver necessitando. vamos pedir que vejam todas as outras meninas com mais carinho e mais empatia. que vejam em si e em todas as outras a beleza de serem únicas e ainda assim serem a mesma. vamos mostrar que nos cuidando e apoiando somos fortes. e que ninguém pode com a nossa força. que ser mulher também é lutar, que nos é exigida a luta e que delas somos capazes - mas jamais umas contras as outras e sim, ainda que diferentes, sempre unidas, sempre nos fortalecendo de mãos dadas com as nossas irmãs.
vamos ensinar a sororidade para as nossas filhas. que elas se acolham e se amem. e aí então não existirão mais bruxas ou príncipes ou maçãs de ódio. apenas irmãs que confiam na sua força, que sustentam o seu amor.
Assinar:
Postagens (Atom)