segunda-feira, 22 de abril de 2013

a maternidade e o encontro com a própria sombra

 o título da postagem é também o nome do livro da Laura Gutman (que recomendo pra todo mundo - mães, pais, cuidadores, todo-mundo). sobre o livro falo depois, é coisa demais, é valioso demais.
 quero falar sobre a minha maternidade e o meu encontro com minhas sombras.
 assim que Mallu nasceu, logo depois de parir e namorar minha pequena por boas horas, a enfermeira pediu que eu fosse tomar banho e que o Carlos me ajudasse. lembro bem como eu quis um abraço dele assim que levantei da cama, como queria que aquele banho tivesse sido agarrada nele, como quis ouvir um "parabéns, você foi foda"... e como fiquei decepcionada com a reação dele - mais que natural - de querer que eu acabasse com aquele banho logo pra poder chamegar a filha recém-nascida.
 ele estava muito gripado, rouco, todo molhado de ficar entrando e saindo do chuveiro comigo durante o trabalho de parto, super cansado. antes de irmos pra enfermaria coloquei Mallu no peito pra mamar pela primeira vez. eu sabia da importância daquilo, pedi que ele tirasse uma foto. lembro como se ele tivesse agido com descaso ao tirar a foto, mas admito que podem ser os hormônios descontrolados daquele dia que me deram essa impressão.
 durante o tempo que ficamos no hospital eu precisava do carinho dele, da atenção, da aprovação. e quando chegou em casa não foi diferente. no 4º dia pós-parto, dia que o leite desceu e meu corpo entendeu que a Mallu já tava aqui fora, tive uma crise de choro, de tristeza, de medo. passei mais de 6 horas chorando sem parar, as lágrimas caindo, eu gemendo de tanto chorar, um horror. e eu não queria que ele percebesse, tentei esconder o quanto pude. claro, não durou muito tempo. ele percebeu, foi até o banheiro conversar comigo, me deu apoio, carinho. teve que sair, foi pra casa da mãe dele e contou pra ela, acho que na inocência de não saber como lidar com um bebê recém-nascido e uma mulher recém-parida. a sogra me ligou, disse que ele havia contado e que os dois estavam rindo de mim. preciso dizer que fiquei emputecida? ela percebeu, tentou contornar a situação e eu desabei. quando o Carlos chegou eu estava melhor, minha mãe passou o dia cuidando de mim e da Mallu, o leite havia descido, as coisas estavam mais calmas mas as lágrimas insistiam em escapulir. disse pra ele que não gostei dele ter contado, que era uma coisa muito íntima e muito minha, que ele não tinha o direito. ele concordou e se desculpou.
 minha carência só fazia aumentar. e junto disso, adivinhem só? Mallu só aceitava colo. naquela época não ficava nem UM minuto no carrinho, no berço ou na cama. até pra dormir durante a noite tinha que ser em cima do meu corpo. durante o dia era o tempo todo no colo, se não fosse assim estava aos berros inconsoláveis, e eu NUNCA deixei ou deixaria minha filha chorar.
 ela estava refletindo a minha sombra. a carência que eu não conseguia mostrar, Mallu mostrava. pedia colo, carinho, chamego, atenção - tudo que eu queria e tinha vergonha de pedir. e com tanto contato me dizia 'calma, mamãe, eu tô aqui. eu não vou te deixar sozinha, eu te dou carinho, eu tô grudada em você'.
 foi difícil perceber isso, difícil admitir, mas assim que o fiz a mudança foi notável. hoje Mallu não é mais um bebê tão chicletinho embora não dispense um chamego da mamãe :)

 aceitem suas sombras, seus sentimentos mais íntimos e escondidos. os bebês estão profundamente conectados com suas mães e passar por um puerpério de peito aberto faz com que consigamos enxergar as nossas sombras e aprender a lidar com elas.

 sei que algumas das minhas sombras ainda refletem na Mallu e preciso aprender a lidar com elas, mas isso é assunto pra depois ;)



"Em nossa cultura tão acostumada a ver apenas com os olhos, acreditamos que tudo o que há para compreender acerca do nascimento de um ser humano refere-se ao desprendimento físico. No entanto, se elevarmos nossos pensamentos, conseguiremos imaginar que esse corpo recém-nascido não é apenas matéria, mas também um corpo sutil, emocional, espiritual. Embora a separação física aconteça efetivamente, persiste uma união que pertence a outra ordem.
De fato, o bebê e sua mãe continuam fundidos no mundo emocional. Este recém-nascido, saído das entranhas físicas e espirituais da mãe, ainda faz parte do entorno emocional no qual está submerso. Pelo fato de ainda não ter começado a desenvolver seu intelecto, conserva suas capacidades intuitivas, telepáticas, sutis, que estão absolutamente conectadas com a alma da mãe. Portanto, este bebê se constitui de um sistema de representação da alma matrerna. Dito de outro modo, o bebê vive como se fosse dele tudo aquilo que a mãe sente e recorda, aquilo que a preocupa ou que rejeita. Porque nesse sentido, são dois serem em um.
[...] No campo emocional, a mãe atravessa esse período desdobrada, pois sua alma se manifesta tanto em seu próprio corpo, quanto no corpo do bebê. E o mais incrível é que o bebê sente como próprio tudo o que sua mãe sente, sobretudo o que ela não consegue reconhecer, aquilo que não reside em sua consciência, o que relegou à sombra."
    A maternidade e o encontro com a própria sombra - Laura Gutman