terça-feira, 26 de novembro de 2013

como ser excluída do clubinho das ativistas com um post - ou: mais amor, por favor

  participo de vários grupos (on e off-line) que reúnem mulheres que se interessam por parto, amamentação e maternagem em geral. considero espaços de muita importância para a construção do empoderamento materno - é onde podemos encontrar e compartilhar informações, evidências científicas, relatos de experiências pessoais. mas infelizmente o que tenho notado é que algumas pessoas participam pelo simples prazer de se sentirem maiores ou melhores que outras.
  claro que existem grupos com temas específicos como, por exemplo, sobre parto natural. as mulheres que ali estão, em sua maioria, buscam um nascimento respeitoso e livre de intervenções desnecessárias para seus filhos. outras mulheres estão ali para partilhar o conhecimento que possuem sobre o assunto, outras para dar seu relato de vivência de parto, outras tantas estão construindo internamente um caminho que ainda pretendem percorrer. muitas são as dúvidas, algumas consideradas 'ingênuas' por quem já convive no meio ativista há mais tempo, e começa aí uma abordagem que só vejo enfraquecer o movimento: respostas grosseiras, desestimulantes, arrogantes - uma imensa disputa de egos.
  às vezes tenho a impressão de que algumas ativistas têm um caderninho em mãos e vão classificando cada mulher/mãe de acordo com suas vivências e escolhas: "fez cesárea? eletiva ou intraparto? amamentou? exclusivamente até os 6 meses? amamentação prolongada? faz cama compartilhada? o bebê usa chupeta? carrega no sling ou no carrinho?" e aí decidem se aquela é uma boa mãe ou não, se merece respeito e boa vontade ou é só mais uma "mãezinha".
  acontece que cada pessoa é um mundo inteiro; simplificar tanta subjetividade é de muitíssima ignorância e prepotência. por mais que não estejamos de acordo com as escolhas que outras mulheres/mães fazem, isso não significa que somos detentoras da razão ou melhores que elas, independente do respaldo científico (ou do clubinho das 'índias-ativistas-chiitas') que temos.
  quero deixar claro que de forma alguma estou fazendo coro ao "culpa, não!" que tem surgido por aí. acredito piamente que cada mulher/mãe precisa assumir a responsabilidade de suas escolhas e lidar com as consequências que elas trarão. quem me conhece sabe muito bem que sou a "chata do parto humanizado, da amamentação, da criação com apego", pois é o que vivo e o que tento passar adiante no meio em que convivo. mas admito e aceito com humildade que o fato de ter parido, por exemplo, não me faz melhor que uma mãe que escolheu fazer uma cirurgia de extração fetal - me faz mais bem informada e empoderada - mas não melhor.
  se o que idealiziamos é mais força e instrução para todas as mulheres, se acreditamos que isso sim vai fortalece-las e empodera-las, como adotar a exclusão poderia ser benéfico? é preciso acolher, incluir, partilhar. a nossa luta é pelo o todo, e não por um clubinho exclusivo.
  no meio feminista o conceito de sororidade tem ganhado cada vez mais força, e talvez fosse a hora de levantarmos essa bandeira também nos grupos e rodas sobre maternidade. precisamos nos reconhecer como iguais, perceber que estamos do mesmo lado na batalha, que juntas somos mais fortes. não é menosprezando ou humilhando uma mulher/mãe que vamos conseguir acabar com a violência obstétrica ou a falta de empoderamento materno. já existe todo um sistema tecnocrata e machista para nos oprimir. nós precisamos unir forças, trabalhar com amor e respeito umas pelas outras.
  deixo por fim uma citação de Simone de Beauvoir: "o opressor não seria tão forte se não tivesse cúmplices entre os próprios oprimidos."


5 comentários:

Anônimo disse...

Oi Ana! Ainda não conheço o seu blog mas adorei este post. Sou mãe de uma estrelinha de 5 meses e assim como vc também participo de alguns grupos relacionados ao universo da maternidade e tenho percebido que muitas vezes algumas pessoas para defenderem sua ideologia ou causa, atacam as outras, são arrogantes, grosseiras . Também desconfio desse negócio do caderninho! Não sei você, mas antes de engravidar ou durante a gestação eu pensava que seria a mãe mais perfeita do mundo e não cometeria nenhum dos erros que via as mães ao meu redor cometerem. Minha filha nasceu e me deparei com um mundo totalmente diferente do que eu imaginava. Descobri um amor que nunca tinha sentido por ninguém, uma amor divino, incondicional, mas também comecei a ver com mais tolerância certas atitudes das mães. Assim como elas erram, também erro. Talvez não sejam os mesmos erros... Muito antes de engravidar li o máximo que pude a respeito da maternidade, busquei informação, conhecimento. Decidi que iria amamentar minha filha até os 6 meses só com leite materno e após os dois anos, porque sabia que isso seria o melhor para ela. Defendo isso! Mas isso significa que sou contra o uso de fórmulas? Não! Desde que haja um motivo justificável para o seu uso. Bom senso para tudo, por favor!

No momento estou com problemas em relação à amamentação. Minha filha está tomando apenas LM mas não está ganhando peso adequadamente e não sabemos exatamente o porque, tanto a pediatra, quanto eu e meu esposo estamos investigando o porquê. A pediatra dela cogitou a possibilidade de introduzir fórmula, mas assim como eu ela está fazendo todo o possível para que isso não aconteça. Estou fazendo tudo que posso: comprei bomba elétrica para estimular a produção, estou tentando dar o leite ordenhado de todas as formas (colher, copo, copo de transição), fui ao banco leite, estou fazendo tudo que posso para que ela não tome fórmula, irei até o fim do mundo para que isso não aconteça. Mas se mesmo assim não der certo, não vou me martirizar, pois terei a consciência tranquila de que fiz tudo o que podia. Temos que ter tolerância conosco, não somos de ferro, não somos perfeitas. Temos que ter tolerância com os outros também, pois também são humanos como nós.

Devemos educar ao invés de atacar Temos que ter responsabilidade pelas nossas escolhas e fazê-las de modo consciente. Como você falou devemos ter mais amor. Não gosto de radicalismos, nem de mulheres de ferro, nem de mulheres perfeitas, principalmente das últimas, pois elas não existem. E as dizem que são estão querendo nos enganar e se enganar.

Desculpe-me pelo texto longo.

Unknown disse...

Texto incrível, mas vc o colocou completamente a perder e entrou em contradição quando citou "extração fetal".... vc se colocou na condição de ser "mais mãe" pq f ez parto normal.... ngm merece ser julgado pelo parto que escolhe ou pq amamenta ou nao.....ou milhares de outros fatores que não citarei aqui.....

Ana Fonseca disse...

Ticiane, em momento algum falar "extração fetal" é um juízo de valor. é apenas o nome do fato: cirurgia de extração fetal.
acredito que estamos aqui juntas lutando contra um sistema obstétrico tecnocrata e machista, mas pra isso precisamos estar empoderadas. e tapar o sol com a peneira não é e nem nunca foi solução, certo? :)

Roberta Duval disse...

Texto simples e direto!
A maternidade é um mar muito escuro e profundo, em que se você se aventurar sem cautela, nunca mais voltar exatamente ao seu ponto de partida!!
Tenho visto grosserias e falsas sutilezas nos grupos também! Tenho visto muita bandeira, muita gente falando e dizendo o que o grupo quer ver ali escrito, para satisfazer o alcance das chiítas. Perda de tempo e tristeza, em nenhum grupo encontraremos solução, respostas ou manual, por que ninguém tem a receita de maternidade e nunca terá! Somos mesmo um mundo inteiro!! Vamos acolher, informar e dar PARECERES e não " se eu fosse você, faria, tinha, escolhia..."
Cheguei a conclusão de que, muitas vezes a ignorância é uma benção! Não que se manter alienado e junto a correnteza seja melhor, mas pelo menos não tem tanta gente radical a querer ditar o melhor caminho a percorrer! Obrigada Ana!!

Laís de Oliveira disse...

perfeita! <3