quinta-feira, 28 de novembro de 2013

entre as expectativas mirabolantes e as reais vivências maternas

  meu sonho de vida sempre foi ser mãe. eu sabia desde bem nova que nasci pra isso.
  frequentemente me imaginava linda, radiante, jorrando amor por todos os poros, enquanto empurrava um carrinho de bebê pelo parque ou observava meu anjinho dormir tranquilo no berço.
 opa, peraí. linda e radiante? empurrar carrinho por aí? observar bebê quietinho no berço? acho que não estou falando da mesma mãe que me tornei, não é? e, admito, isso foi muito frustrante no início da minha maternagem.
  o que eu acompanhava sobre maternidade era uma realidade muito diferente da que descobri como sendo a minha tempos depois. antes mesmo de engravidar lia blogs de mães que contavam sobre o enxoval, as fotos do book gestante, a arrumação do quartinho, a banheira caríssima e trambolhenta (dica que eu sempre lia por aí: comprar com suporte porque depois da cesárea não dá pra ficar abaixando pra dar banho em bebê). sempre quis um parto normal, mas, ah, se fosse cesárea tudo bem, "o importante é o bebê vir com saúde". amamentar achava bacana, mas mamadeira e chupeta seriam partes essenciais do enxoval. e é claro que meu bebê dormiria em seu bercinho, no quartinho decorado pra ele, ao som da música do móbile superestimulante. eu poderia descansar enquanto o bebê dormisse - cada um no seu quadrado quarto, e continuar frequentando o salão e quem sabe até a academia. bebê conforto + carrinho estão aí pra facilitar a vida, não é mesmo? perto do primeiro ano do meu filho eu já teria meu corpo novinho em folha de volta, minha vida profissional tranquila e estável, o amor da minha criancinha que seria sempre tão calminha e risonha e sairia aos fins-de-semana só com o marido ou os amigos de boteco, afinal, ninguém é de ferro.
  sim, eu tinha uma alma menasmain. e antes mesmo da Mallu nascer fui obrigada a me reconstruir dentro dessas idealizações malucas. lutei pra parir, não aceitaria uma cesárea e "vocês estão bem, isso que importa" como consolo de forma alguma. a amamentação foi uma bandeira que ergui e abracei desde a primeira hora de vida da minha filha. e por mais "esse peito não tem leite" ou "ela tá com fome, seu leite não sustenta" que tenham cruzado meu caminho, continuamos firmes e fortes no nosso vínculo alimento-segurança-amor.
  tive que ajustar minhas expectativas e aprender a respeitar o ritmo daquele bebê que recebi: uma menina doce, com uma necessidade imensa de colo, de atenção exclusiva, de mamar exaustivamente, de dormir grudada em mim. o berço virou objeto de decoração e minha cama o nosso ninho. nos primeiros meses sofri com isso, os braços doíam de dormir abraçada com a Mallu, eu acordava mais ou menos 5 vezes por noite pra amamentar, não conseguia ir ao banheiro durante o dia enquanto ela dormia porque todas as sonecas eram no meu colo, almoçava em pé ninando a pequena com um braço e usando o outro pra comer. nunca gostou de ficar no carrinho, se eu insistia logo vinha um escândalo, e a única forma de carregá-la era o colo ou o sling. chorei muitas vezes achando que estava cometendo algum erro, que não era possível que só eu seria premiada com um bebê tão "dependente" (e algum bebê nasce independente nesse mundo, gente?). pedia conselhos à quem achava valer a pena e me enfurecia com os palpites maldosos e pessimistas de quem ousava se intrometer. ainda que aquela maternidade que eu exercia no dia-a-dia não fosse nada parecida com tudo que li e ouvi antes de ser mãe, me recusava a desrespeitar as particularidades da minha filha.
  aos poucos percebi - e, o mais importante, aceitei - que simplesmente aquela era a Mallu. o bebê da propaganda que dorme quietinho no berço ou o recém-nascido da minha amiga que fica tranquilo e sozinho no carrinho não são melhores que ela, são apenas diferentes. e aquela que passava a maior parte do tempo descabelada e com olheiras, cheirando a leite e com os braços preenchidos por um bebê gordinho, era a mãe que eu escolhi ser. eu poderia ter escolhido deixá-la chorar pra "aprender", dar outro leite por praticidade, delegar os cuidados à outras pessoas - mas eu escolhi ser a mãe que ela merece que eu seja.
  é certo que quando nasce um bebê nasce também uma mãe, mas o que ninguém nos conta é que essa mãe não nasce pronta. o bebê recém-chegado ao mundo modifica todo o nosso universo particular, e temos que aprender no exercício do dia-a-dia a lidar com essas mudanças. a maternidade pode ser uma bênção mas pra isso é preciso aceitá-la de peito aberto.
  passei a ver com mais amor e empatia as necessidades da minha filha. entendi que algumas coisas precisarão ser adiadas, por pura questão de prioridade. abracei minha pequena na hora de dormir e me permiti sentir o cheirinho da sua pele, o contorno do seu corpinho grudado ao meu, o som da sua respiração tranquila. carregá-la no sling passou a ser uma forma de dividir com ela meu ponto de vista sobre a vida que nos cerca. os banhos abandonaram a banheira e foram para o chuveiro, pele com pele e um tetê de brinde. brincamos as duas sentadas no chão e conversamos usando os sons que ela me ensina, as palavrinhas que descobriu como falar. não tenho mais vontade de sair sem ela, pelo menos não agora. o tempo passa tão rápido e logo meu colo vai ser pequeno demais comparado ao mundo lá fora. encontrei o prazer em maternar da forma que tomei como minha, esqueci o lugar-comum da mãe que imaginei que seria.
  me permiti ser feliz na nossa díade mãe-filha, esqueci a idéia de que preciso me encaixar naquele modelo de mãe que vendem por aí. o resultado disso é uma mulher mais segura, uma mãe mais amorosa e uma filha mais feliz. Mallu é um bebê simpático, risonho, alegre. a cada nova fase de desenvolvimento vem conquistando mais autonomia e segurança, e sei que isso é reflexo da criação apegada que recebe. ela sabe dar carinho e sabe recusar o que não lhe agrada, deixando claro que, da forma inicialmente primitiva que tem domínio nesse momento, já entendeu que merece ser respeitada.
  tenho muito orgulho de todo esse caminho que percorremos até aqui - da chupeta que dei ainda na maternidade e joguei fora quando vi que não precisávamos dela, do abraço na madrugada aceitando a nossa cama compartilhada, do peito pra fora em qualquer lugar que seja pra matar a necessidade de fome ou de aconchego, de permitir que ela dê seus primeiros passinhos rumo a conhecer o mundo à sua volta, mostrando sempre que estou logo ali do lado.
  assim como ela nasceu de um parto em que trabalhos juntas e aprendeu a mamar enquanto eu aprendia a amamentar, sei que vamos continuar de mãos dadas e corações unidos em cada nova descoberta - ela como filha, eu como mãe, nós duas como apaixonadas que somos uma pela outra.
  ainda não fiz escolha melhor que respeitar e amar a pessoa-Mallu e a pessoa-Ana. formamos uma dupla e tanto.


2 comentários:

Unknown disse...

Acredito que não exista essa tal forma que se prega pra criar os filhos, cada pessoa é única, e meu filho nunca vai ser como seu, só que essas mentes pequenas realmente nos enchem com pensamentos medíocres. Maria Clara é uma criança que vive no 220 e me chateia mesmo quando os familiares falam mas fulano era tão bonzinho, fulano não é meu filho, ou então mas que que tem dar um pirulito, ela tá olhando. Optei por criar minha filha do meu jeito e nao quero que ela coma, e enquanto eu puder escolher o que ela come vai ser do meu jeito. Não quero industrializados por agora, ela já não mama mais no peito, povo chato que cria um estereótipo de mãe que só existe na imaginação. Isso me irrita

disse...

Adorei seus textos, os poucos que li... tb sou dessas mães de muito colo, abraço, cheiro, beijos, mamás, carinho e amor! Tb pensava diferente antes, mas fui seguindo minha intuição e cuidando com muito apego. Depois acabei descobrindo que acertei! Minha bebê tb é uma criança muito feliz e isso que importa! Bjos