terça-feira, 23 de setembro de 2014

relato do meu puerpério - nu e cru



logo depois do parto me bateu uma crise. então era aquilo? o parto que eu sonhei, que eu dei o meu melhor pra construir, era aquilo? aquela dor toda (ocitocina sintética gotejando sem parar), aquelas pessoas me infantilizando no hospital, roubando meu protagonismo, meu marido muito mais preocupado com a gripe dele do que comigo (sim, EU queria atenção, era o MEU momento. eu ainda não havia entendido que dali pra frente o foco seria a Mallu).
chegando em casa entrei pro banheiro correndo e fui chorar. o que eu ia fazer? eu nunca soube cuidar nem de mim mesma. olhei pra minha cachorrinha e pensei "coitada, vai sentir tanto agora que o bebê chegou, eu não podia ter engravidado, coitada da Chérie" - sim, eu estava me sentindo culpada porque a cachorra sentir a chegada da minha filha.
no terceiro dia pós-parto meu leite desceu. eu chorei por 10 horas seguidas. sem cessar. as lágrimas rolando, eu soluçando, não conseguia amamentar direito, os peitos rachados, a dor, a insegurança, o cansaço, a privação de sono. minha mãe e minha tia foram ficar comigo, fizeram canja de galinha e canjica (cuidado que fez a maior diferença), o Carlos foi pra casa da mãe dele passar o dia inteiro (!!!) e depois ela me liga falando "quer dizer que você tá chorando sem parar? hahahahaha já rimos demais de você aqui". emudeci. desliguei o telefone. tenho raiva e mágoa disso até hoje.
no quinto dia fomos a pé até o posto fazer o teste do pezinho. a enfermeira foi grossa, disse que Mallu tava com icterícia, que tinha que voltar no hospital pra internar e tomar banho de sol. foi aí que vi o tamanho do meu amor por ela: chorei, fiquei desesperada, "como ela vai dormir naquele berço sozinha? ela gosta é de ficar no colo, chora se sai do colo por um minuto, eu não vou ficar longe da minha filha, não consigo, ela é parte de mim". peitei a decisão e não voltei pro hospital. quando chegou a noite confesso que pensei sem querer querendo: "podia ter deixado ela ir, pelo menos voltava pra casa e dormia uma noite inteira".
daí pra frente começaram os palpites e eu fui descobrindo a minha força. virei bicho, leoa lambendo e defendendo a cria. os cuidados com ela já não eram feitos no "automático", por obrigação... o amor foi se construindo, se solidificando. lembro especialmente de uma noite nessa primeira semana em que Mallu chorava muito, chorava sem parar, e nada fazia ela se acalmar. fui pro quarto com abraçando-a, o rostinho colado no meu, e fiquei dizendo que eu estava ali, cuidando, acolhendo, amando. que dali pra frente estaríamos sempre juntas e eu faria tudo o que fosse preciso por ela, sempre. ela dormiu e eu senti a força incrível do nosso amor.

não parou por aí, esse foi só o baby blues. tive depressão pós-parto (ou não, na verdade eu tenho transtorno afetivo bipolar e depressão é algo "corriqueiro" na minha vida).
sofri muito por não ser mais o centro das atenções, por não reconhecer meu corpo, por custar a entender que as coisas nunca mais seriam como antes, por começar uma compulsão alimentar que não consegui controlar até hoje, por perder minha individualidade (sempre fui um tantinho egoísta). tive crise de pânico durante os primeiros 3 ou 4 meses e minha psicóloga me atendia em casa, se não fosse esse apoio (e também a presença quase diária da minha irmã) não sei a que ponto teria chegado.

foi isso. se eu pudesse voltar atrás teria buscado muita informação sobre o puerpério, teria pedido mais ajuda, deixado algumas coisas já prontas (organizado alimentação, limpeza da casa, pediatra definido, etc), teria falado mais sobre os meus sentimentos, criado menos expectativas, teria me envolvido mais com a minha filha e esquecido do resto do mundo (principalmente do marido, fiquei muito carente da atenção dele nesse período e isso me rendeu algum sofrimento desnecessário).

acho importante fazer relatos de puerpério, presentar com livros sobre o assunto (sugestão: A maternidade e o encontro com a própria sombra - Laura Gutman), colocar na roda que o começo é punk mesmo e nem tudo são flores. assim como os relatos de parto me ajudaram muito a saber o que esperar e como ponderar as situações que surgiram, teria me feito muito bem e seria muito esclarecedor se eu tivesse um conhecimento prévio do que viria pela frente. vamos falar sobre o puerpério, o pós-parto, as dores, os medos, as inseguranças. as próximas mães certamente agradecerão.

e quer saber bem a verdade? eu acho que a gente sai do puerpério mas o puerpério nunca mais sai da gente.


3 comentários:

FABI CARVALHO disse...

e bem assim mesmo esse nosso momento estou passando por essa fase estou com 16 dias de resguardo depois de uma cesariana me sinto assim frágil impotente meio inútil espero que passe logo.

Unknown disse...

Pra mim depois da cirurgia foi como um filme de terror as dores eu sofri demais com acesaria, a dor da amamentação hoje estou com 38 dias de resguardo e graças a Deus tudo está se encaixando mais me sinto as vezes muito nervosa porque queria que meu marido me ajudasse com a neném TB, ele ajuda um pouco mais quando chora já me entrega daí, sofro com isso pega para tirar fotos as vezes muito complicado..... Tive esse bluees aí TB chorava sem parar foi muito difícil pra mim chegar em casa e não ter apoio da família só estava eu e meu marido ali sozinhos, meus pontos doía demais era como um filme de terror pra mim só Deus sabe o quanto sofri nos 20 primeiros dias meus pontos inflamados TB...

Unknown disse...

Não é como vemos na tv ou em filmes, uma gravidez linda um puerpério fantástico, fantasiamos quando estamos grávidas e na vida real e totalmente diferente do que vivemos, tenho uma energia linda com minha filha ela e uma benção de Deus, apesar do sofrimento sou eternamente grata a Deus por ter me proporcionado viver essa experiência.