quarta-feira, 11 de setembro de 2013

malluquices paternas: o nascimento da Mallu pelos olhos do pai


vocês já conhecem o nascimento da Mallu pelos meus olhos, mas agora vão conhecer pelos lindos olhos do Carlos, o pai dela.

  Vou começar pelo dia em a bolsa rompeu...
  Sabe aqueles dias em que nada da certo? Em que tudo que pode acontecer de errado acontece... 
  Era um dia daqueles, uma segunda feira, no auge de uma gripe, num calor infernal. O dia se arrastava os problemas no trabalho estavam me deixando louco a ponto de pedir pra sair, mas essa opção não existia. A tarde ia caindo e as coisas não melhoravam no trabalho, só pioravam. Eu trabalhava na Operação logística da Kibon (sorvete) e era responsável por 30 caminhões e teoricamente tinha que cuidar para que as entregas fossem realizadas. Só que num dia de verão em BH chove muito, e faz muito calor. Era caminhão com mercadoria descongelada, era caminhão preso em alagamento, era caminhão com aparelho de refrigeração que não funcionava, no fim do dia eu estava morto e fora a gripe que me deixava ainda pior. Eu fiz um monte de coisa que não faria num dia comum, não passei as informações completas para o cliente, enfim, eu só queria sair daquele lugar, abraçar minha esposa barriguda e dormir.
  Sai do trabalho, tarde... Mais de 9h da noite. Devo ter chegado em casa por volta de 23h e fui chegando e logo conversando com a Ana, contando o fiasco que tinha sido meu dia no trabalho. Quando de repente a Ana levanta e começa a escorrer um liquido das pernas dela caindo em cima do tapete da sala. Ela foi pro banheiro, e eu já eufórico queria ir para o hospital, mas a Ana que se preparou muito bem para aquele momento mantinha a calma, não queria ligar para ninguém para não deixar ninguém desesperado e passar isso para ela. Me disse que só quando começasse a sentir contrações queria ir para o hospital com medo que eles falassem que ela precisava de uma cesárea. Mas eu ficava ai do lado dela: "Tá tudo bem amor? Tá sentindo alguma coisa?". E ela bem animada, mas calma. Tão calma que me mandou ir dormir porque eu tava muito cansado (e tava mesmo) então eu fui.
  Acordava às vezes no meio da noite e a Ana não tava do meu lado, ela tava no computador, tão eufórica que não dormiu. Antes das 6 eu já tava acordado e o povo já tava avisado que a Maria Luiza ia nascer. Fiz café pra quando a Dona Célia, Thiago e Michelle chegassem pra levar a gente pro hospital, antes disso já tinha caminhado um pouco com a Ana na praça perto de casa. Ela disse que isso estimularia as contrações. A Célia não tomou o café porque tinha açúcar, acho que só eu tomei aquele café.
  A Ana voltou pra praça com a Michelle para caminhar mais um pouco e eu não me agüentava de ansiedade. Entramos no carro e fomos para o hospital - longe pra caramba, diga-se de passagem. Escolhemos esse hospital mesmo sendo longe pelas referências: minha própria sobrinha tinha nascido prematura lá e foi super bem tratada e hoje é uma menina linda. Hospital Sofia Feldman é o nome. 
  No caminho o telefone corporativo toca - resquícios do que tinha acontecido no dia anterior, mas logo disse que não podia conversar e ligava depois. Fomos para o bairro, mas ninguém no carro sabia exatamente onde era o hospital. Andamos por ruas feias e estranhas, até que depois de descer um morro o hospital surgiu. 
  Pronto. Entramos, fiz a ficha da Ana, ficamos todos na recepção aguardando que ela fosse chamada. O movimento era muito alto, era gente saindo e entrando o tempo todo. Devia ter umas 10 pessoas na nossa frente também aguardando atendimento. Tinha uma mulher que falava sem parar e a Ana estava impaciente com a falação dela, mas depois descobrimos que era um tipo de depressão pós-parto. 
  Fomos para a triagem, a medica ou enfermeira (eu não me recordo bem) entrava e saía da sala, até que ela por fim nos atendeu. Quer dizer, atendeu a Ana e eu fiquei lá, só olhando e ouvindo. Ouvimos o coração da Mallu e estava tudo bem. A médica ainda disse que fomos imprudentes ao esperar tanto tempo depois que a bolsa estourou, embora a Ana não concordasse com isso. 
  Acho que depois disso fomos para a Sala do Pré-parto, lembro que a Ana queria que a Mãe ou irmã dela a acompanhasse, eu fiquei pensando "como assim?". E acabou que fui eu mesmo que fiquei. Fiquei primeiro muito tempo do lado de fora na sala, numa cadeira dura e sem jeito. Como a gripe não saía do meu pé eu queria dar uma deitadinha na cadeira, mas não deu. Tinha um cara do meu lado e eu evitava conversa, mesmo o cara estando de camisa do Galo eu não puxei assunto. Chegou outro e também ficou lá. Os dois conversavam, eu ouvia a conversa, mas não entrava no meio. Lembro que um deles ia ser pai de gêmeos. 
  A enfermeira chamou a gente para entrar, cada um ficou no leito de suas respectivas esposas. Eu conversava com a Ana, ela ainda super tranqüila. A cadeira lá era mais confortável, mas toda hora elas pediam aos homens que saíssem da sala pra examinar as grávidas, depois voltávamos. Nesse meio tempo fui à padaria, comprei coxinha pra todo mundo e uma das enfermeiras não deixou a Ana comer o monte de bobagem que eu tinha levado pra ela. 



  A tarde caia a chuva caia, o calor se mantinha e a gripe também. A Ana já estava vestida com aqueles trajes de hospital que tampa na frente e deixa a bunda de fora, mas a gente amarrou aquilo direitinho e saímos andando pelo hospital para ver se as contrações vinham. Eu estava carregando um suporte de soro que não tinha rodinha e era pesado pra caramba. E a gente ia pelos corredores, na recepção, no pátio com aquele troço pesado, a Ana com a barriga daquele tamanho todo...
  


  Voltamos para a sala do pré-parto, colocaram um remédio no soro da Ana, olharam como estava à dilatação e depois disso as coisas se aceleraram. A Ana começou a sentir dor, as contrações estavam chegando. Fomos para o banheiro e ficamos muito tempo lá, a água quente caia na barriga dela e respingava em mim, e eu reparei em como a enfermeira fazia massagem na Ana e fazia também sempre que a via sentindo dor. O coração tava sempre acelerado. 
  Ficamos um bom tempo no banheiro, voltamos para a cama, sempre tinha alguém pra me mandar sair do quarto para examinarem as outras mulheres...  A dilatação aumentava e fomos para a sala de parto. Nessa hora eu pensei: "É agora!". Mas nem era, quando fomos para a sala de parto que eu senti como a Ana estava sentindo dor, ela tava morrendo de sono, quando as contrações vinham ela corria da cama para o banheiro, do banheiro (toda molhada) para a cama de novo. Ficamos alguns  minutos só nós dois no quarto, quando eu chamava a enfermeira ela falava que só tinha que esperar.
  Chegou o momento que a Ana disse que não agüentaria mais sem a anestesia, eu procurei a enfermeira e ela tava junto de outros olhando alguma coisa no celular e pediam pra esperar. Corri lá fora e dava notícias pra Célia, falei que o bicho tava pegando! Voltei correndo pra sala, a gente continuava lá sozinhos até a enfermeira vir e pedir pra chamar o anestesista (que demorou muito pra chegar). 
  Ficamos mais de uma hora na sala de anestesia esperando, a Ana me mordia às vezes quando a contração vinha. Quando o anestesista aplicou a injeção já não adiantava muito, ele mesmo disse que já era hora da Mallu nascer. Voltamos para a sala de parto que era linda, grande.
  Examinaram a Ana novamente e já era hora mesmo da Mallu nascer. Ela ficou deitada no começo, fazia força mas a enfermeira falava que ela estava fazendo força de uma maneira errada. Então ela ficou de cócoras em cima da cama segurando um arco que a enfermeira colocou, eu assistia aquilo tudo numa vontade de opinar e de ajudar, mas ficava calado porque eu não entendia nada de parto.
 A Ana fazia força e eu comecei a ver o cabelo pretinho da Mallu. Se meu coração já estava acelerado nesse momento, na hora que eu vi aquilo a velocidade triplicou! Eu fiquei num estado de euforia que mesmo se eu tentasse o sorriso não saia da minha cara.
  A Ana continuava fazendo força e disse pra chamar a Michelle na recepção. Fui correndo, algum funcionário do hospital disse que não podia correr no corredor, imagina. Chamei a Michelle e voltei correndo, sentei na borda da banheira que tinha no quarto bem de frente pra Ana e  continuava assistindo com um baita sorriso no rosto. Nossa menina tava nascendo. 



  E nasceu. Eu a vi saindo de dentro da Ana. Não acreditava no que tava acontecendo, tava em outra dimensão. Ouvi aquele choro mais lindo do mundo, a Ana também chorava muito, a Michelle tremia que nem vara verde e eu tava meio que em êxtase.
  Aquele neném agarrada no colo da mãe, eu segurava a mão da Ana, segurava aquela mãozinha, olhava aquele corpinho tão linda e tão perfeita. Acompanhei a enfermeira vestir a primeira roupinha nela todo bobo.


 Foi completamente incrível, diferente de qualquer coisa que eu tinha visto ou qualquer coisa que eu vou ver. Lembro da Ana dizendo chorando com ela no colo e ela chorando junto: "Cê ta com a mamãe, meu amor. Você é linda. É presente que Deus mandou pra gente."


  Eu lá perplexo com aquele momento. Posso falar durante horas e não vou reproduzir o que senti naquele momento. Saí daquela sala de parto sendo Pai orgulhoso da minha filha linda que acabara de nascer e saí num orgulho danado da Ana. Não imaginava que ela fosse tão forte. Superou a dor e o sono, tudo pelo bem da nossa menina.
  Não me lembro mais das coisas que aconteceram na noite depois do parto, eu tava morto. Fomos pro quarto, com luz baixa. Ana e Mallu dormiram na cama e eu na cadeira do lado. Acho que a Ana fez um lanche antes de irmos pro quarto. Eu acordei a noite e lanchei também, mas dormimos aquela noite. 
  Foi minha primeira noite como pai. Quer dizer, eu me considerava pai quando a Mallu tava na barriga, mas agora era diferente. Estavam ali as duas, as razões da minha vida, e eu do lado. Realizado.
  Mas esse foi só o começo da melhor parte da minha vida.



tem como não se derreter? <3
toda quarta-feira vocês vão saber o que ele pensa e sente a respeito da paternagem ativa que pratica. quarta agora é dia de malluquices paternas!


Um comentário:

Unknown disse...

Me emocionei mesmo, Deus abençoe vocês imensamente e Parabéns ao Carlos por parir junto com você