o sangramento - posts atrasados parte II

 no dia 20 de julho tive uma decepção muito grande com o pai da Mallu. é um assunto no qual evito falar porque ainda não está cicatrizado, embora tenha decidido tentar superar e seguir em frente. infelizmente essas coisas não acontecem de uma hora pra outra... são uma construção. acredito que conseguiremos, ao longo do tempo e de esforços, realizar essa reconquista.
 fiquei muito nervosa, chorando e sem me alimentar direito, sem nem conseguir pensar em voltar a namorá-lo (sendo que na próxima semana iríamos nos mudar pra casa que estávamos alugando e morar juntos, ou seja, tudo estava mais bagunçado dentro de mim do que nunca). foi então que no dia 23 de julho, com 14 semanas e 2dias, uma segunda-feira, eu estava sentada na escada da casa da minha mãe conversando com minha irmã e lendo alguma coisa, quando senti algo descendo na minha calcinha. corri pro banheiro e vi um sangramento escuro. me desesperei na hora. disse pra minha irmã que ela teria que ir ao médico comigo. liguei pra minha mãe que estava com meu RG, pro meu irmão pra pedir que me levasse ao hospital de carro e pro pai da Mallu pra que soubesse da situação. corri pro banheiro pra tomar banho, me arrumei rápido e logo minha mãe e meu irmão já estavam com o carro na porta me esperando. o pai da Mallu nos encontraria lá, porque iria direto do trabalho.
 fui chorando todo o caminho, morrendo de medo de estar perdendo o meu bebê (ainda não sabia o sexo). minha mãe rezava e me passava força enquanto chegávamos lá.
 chegamos, passei pela triagem e fui esperar a consulta. o pai da Mallu chegou, também aflito, e naquele momento eu ignorei toda a raiva e decepção que estava sentindo por ele. tudo que conseguia pensar era no nosso bebê e só ele conseguia me acalmar o suficiente.
 fomos atendidos por um médico super grosso. ouviu o coração dela (o maior alívio do mundo!) e fez o toque, onde ainda saiu sangue nos dedos dele. perguntamos se estava tudo bem e ele disse que naquele momento sim, mas que dali a 6 horas o sangramento poderia aumentar e haver um aborto. disse isso como se não importasse, como se fosse qualquer coisa. pedi que fizesse um ultrassom para saber o que estava causando o sangramento, e ele se recusou muito grosseiramente, dizendo que se eu quisesse que resolvesse isso com minha médica do pré-natal. por mais que a gente pense 'era uma gestação de poucas semanas, eles vêem isso todos os dias', isso NÃO É NORMAL. é violência obstétrica.
 saímos do consultório muito revoltados e ainda preocupados, então fomos pedir para que outro médico nos atendesse. conversamos com a enfermeira-chefe e ela agiu com a mesma má-vontade, dizendo que o máximo que poderiam fazer seria uma curetagem mais tarde. meu deus, não entendo como podem ser tão insensíveis com as pessoas! aquela mulher estava falando sobre o meu bebê, o meu amor, a minha vida.
 liguei pra minha irmã e pedi que tentasse marcar um ultrassom de urgência em alguma clínica no nosso bairro. graças a Deus ela conseguiu, e fomos correndo pra lá, já mais aliviados depois de ouvir o coraçãozinho do bebê.
 minha mãe e o pai da Mallu entraram na sala comigo e a médica começou o ultrassom. lá estava minha pequena, dormindo quietinha e chupando o dedinho. foi avaliada, a médica constatou que tudo estava em perfeita ordem, nenhum problema com a placenta, o colo ou o útero. disse que o sangramento deve ter sido por algo externo, e eu imagino que tenha sido por tudo que sofri nos dias anteriores. estamos absurdamente conectadas com nossos bebês desde o útero, fisica e espiritualmente falando.
 fomos embora bem mais tranquilos sabendo que o bebê estava bem. nunca me senti tão aliviada na vida, e antes disso nunca havia sentido tanto medo também.
 o pai da Mallu foi pra casa da minha mãe comigo e acabamos reatando, afinal de contas nada mais importava além do nosso bebê...
 dizem por aí que Deus escreve certo por linhas tortas, e a gestação me prova dia após dia que essa é a maior verdade que existe.